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Notícias

Olhar os museus no espelho do mundo

20.08.2013

Apelo à participaçãp na 23a Conferência Geral do Conselho Internacional de Museus – ICOM

Mário Moutinho 

Cidade das Artes, Barra da Tijuca – Rio de Janeiro | de 10 a 17 de agosto de 2013
Texto ENG, FRA, ESP http://www.icomrio2013.org.br/pt/news/look-at-the-museums-through-the-world-s-mirror

O que há de bom nesta 23ª Conferência Geral do ICOM é simplesmente ela ser no Brasil, e mais ainda no Rio e mais ainda na cidade que me deu a conhecer há 20 anos uma museologia onde o afeto e a amizade são tão importantes como tudo aquilo que vai ser discutido, debatido, confrontado, armadilhado e outras coisas mais, na tal dita 23ª.

Há 20 anos assisti ao I Encontro Internacional de Ecomuseus. Um projeto pioneiro de lançar as bases de uma rede de ecomuseus para a cidade do Rio, na busca daquilo que fazia e faz falta nas grandes cidades e onde o museu diz encontrar a sua razão de ser (cidadania, igualdade, inclusão, memória…) e que a então nova Museologia (julgávamos ser os únicos!) hoje chamada de Sociomuseologia gritava com toda a força. Força que lhe vinha de Santiago do Chile, do Quebec e de todos aqueles e aquelas que militavam por essas razões.

Foi na gente do então desejado Ecomuseu de Santa Cruz, da Prefeitura, de Salvador, de São Paulo, do Rio, da Unirio e do Caju que criei um modo de bem-estar de um lado e outro do oceano, onde a cumplicidade, a partilha, a militância e a humanidade de vidas de ser e de estar, dão na verdade o gosto à vida, à partilha, à militância e à humanidade daquilo que fazemos por convicção e por modo de viver.

Mal eu sabia, mal eu imaginava como a minha vida se entrelaçaria para sempre com o Brasil. E ainda bem.

Escrevi eu então nas atas dessa Conferência:

"Sem dúvida que a Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro é uma terra onde a ânsia frustrada do direito à igualdade se sente a cada instante, em cada olhar e cada coisa,

      Terra diferente e igual ao mesmo tempo no desencanto dos pais que tão cedo perdem o destino dos seus pivetes, para quem sonharam caminhos mais abertos.

      Terra diferente e igual ao mesmo tempo no tardar do reencontro de cada um com os seus, com a memória e com o dia de amanhã.

      Mas, também, terra diferente e igual na luta e na vontade de contrariar o abandono, e que obriga cada um ao seu jeito e no seu saber a tomar, a gritar e a provocar a mudança.

      Uma espécie de rosnar que amedronta os donos do mundo”

Vinte anos passaram deixando para traz um Brasil bisonho do tempo da ditadura, submisso então, exatamente, aos mesmos donos do mundo, que hoje se banqueteiam noutras paragens do mundo, deixando por onde passam um rastro de pobreza e de sofrimento.

 Então que esta 23ª seja um tempo para olhar os museus, certamente, e sobretudo a multifacetada museália/museologia brasileira, mas olhando sobretudo no espelho do mundo no seu todo, para dentro e para fora dos museus.

MINOM, Universidade Lusófona de Lisboa